terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ensinar ou Aprender

Estou de molho devido a uma conjuntivite e aproveitando o tempo, escarafunchei um livro antigo da Emília Ferreiro e comecei a ler o que havia grifado anos atrás.
Achei uma parte escrita assim: "Não se deve ensinar, porém deve-se permitir que a criança aprenda".
Fechei o livro e a frase continuou martelando na minha cabeça.
Me vieram várias reflexões para exemplificar isso...para os meus amigos que não são da área, selecionei uma das minhas reflexões.
            Curiosamente, ninguém se perguntou a respeito do processo da aquisição da linguagem oral , ou seja, como aprendeu a falar. Que eu me lembre, nenhuma mãe ficou ensinando fonemas da língua, o que vejo são mães falando, conversando e cantando para seus filhos sem se preocupar em saber quais fonemas estão apresentando.  Outras pessoas, rodeiam a criança falam, entre si, permitindo que ela as escutem, ainda que suponham o não-entendimento de tudo o que escutam. Em outros termos, ninguém nega às crianças o acesso a informação linguística antes que sejam falantes, ou seja, ninguém pára para ensinar a criança falar construindo sílabas, apresentando o alfabeto. O que fazemos é deixa-lá experimentar os sons com balbucios, apreciar e fazer uso da fala para se comunicar, amar e sentir o mundo ao seu redor.
Taí, isso é permitir que a criança aprenda.
Seria ótimo se a escola  começasse a entender o que realmente é isso...


Grande beijo,
Vivi.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Minimamente Feliz por Leila Ferreira

A felicidade é a soma das pequenas felicidades. Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida. 

Afinal, desde que nos entendemos por gente aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no meio do meu caminho (que de certa forma coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive certeza de
que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e duradouro.

Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída em conta-gotas. Um pôr-de-sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir. São situações e momentos que vamos empilhando com o cuidado e a delicadeza que merecem alegrias de pequeno e médio porte e até grandes (ainda que fugazes) alegrias.

'Eu contabilizo tudo de bom que me aparece', sou adepta da felicidade homeopática. 'Se o zíper daquele vestido que eu adoro volta a fechar (ufa!) ou se pego um congestionamento muito menor do que eu
esperava, tenho consciência de que são momentos de felicidade e vivo cada segundo.

Alguns crescem esperando a felicidade com maiúsculas e na primeira pessoa do plural: 'Eu me imaginava sempre com um homem lindo do lado, dizendo que me amava e me levando pra lugares mágicos. Agora, se descobre que dá pra ser feliz no singular:
'Quando estou na estrada dirigindo e ouvindo as músicas que eu amo, é um momento de pura felicidade. Olho a paisagem, canto, sinto um bem-estar indescritível'.
Uma empresária que conheci recentemente me contou que estava falando e rindo sozinha quando o marido chegou em casa. Assustado, ele perguntou com quem ela estava conversando: 'Comigo mesma', respondeu. 'Adoro conversar com pessoas inteligentes'
.
Criada para viver grandes momentos, grandes amores e aquela felicidade dos filmes, a empresária trocou os roteiros fantasiosos por prazeres mais simples e aprendeu duas lições básicas: que podemos viver momentos ótimos mesmo não estando acompanhadas e que não tem sentido esperar até que um fato mágico nos faça felizes.

Esperar para ser feliz, aliás, é um esporte que abandonei há tempos. E faz parte da minha 'dieta de felicidade' o uso moderadíssimo da palavra 'quando'.
Aquela história de 'quando eu ganhar na Mega Sena', 'quando eu me casar', 'quando tiver filhos', 'quando meus filhos crescerem', 'quando eu tiver um emprego fabuloso' ou 'quando encontrar um homem que me mereça', tudo isso serve apenas para nos distrair e nos fazer esquecer da felicidade de hoje. Esperar o príncipe encantado, por exemplo, tem coisa mais sem sentido? Mesmo porque quase sempre os súditos são mais interessantes do que os príncipes; ou você acha que a Camilla Parker-Bowles está mais bem servida do que a Victoria Beckham?
Como tantos já disseram tantas vezes, aproveitem o momento, amigos. E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir somando as pequenas felicidades.

Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de pequenas
alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos tempos. Que digam.

Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera.

Leila Ferreira, jornalista